Como diria o meu pai: - Chove copiosamente! Não me canso de apreciar as bátegas de água a cair no chão. Chove tão fortemente que nem consigo ver. Só as nuvens se adensam em colunas, lembrando uma força qualquer a cair na terra. Aproxima-se um vento veloz, que sacode as árvores, desorientando-as. A tempestade passa por aqui, e as únicas coisas calmas são as luzes de presença das casas e dos candeeiros públicos.
A chuva chama-me à janela. Quando me volto, o vento parece que pede atenção. Dois relâmpagos acedem-se, e imediatamente ouvem-se os ecos. A tempestade está aqui diante de mim, como um espectáculo. Se aqui estivesses ficarias fascinado com os clarões, e dirias que quem dera que durasse até à noite, para ter mais impacto. E fazes contas, - vezes a velocidade do som, vezes a velocidade da luz…Começa a afastar-se, desiludes-te.
O ambiente torna-se mais claro. Consegue-se ver o rio a transbordar lá ao longe, e as terras castanhas, feridas pela água.
Venho para o quarto, onde a temperatura está amena, e o cheiro a detergente da roupa impregna o ar. Sento-me à beira da cama, e pela fresta da varanda consigo ver outra vez a chuva a voltar intensamente. E muito depressa a noite entorna-se como uma tinta no algodão. Empapa o céu. As estrelas cá de baixo penduram-se nas casas, nos carros, nas ruas. Eu leio em voz alta um daqueles inúmeros livros que deixei a meio – A árvore das palavras, Teolinda Gersão. Para não me cansar. Tenho um propósito: dar um fim a tudo o que abandonei. A chuva faz-me pensar, e já é assim há muito tempo.
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