O tempo foge, como fogem as andorinhas para longe. Mas não volta no próximo verão. O ano que passa vai ficar arrumado na memória das vivências de cada um, nas folhas dos jornais diários, e não tornará.
Parece uma imagem muito pesada.
Talvez seja.
Devia aproveitar os dias que vão nascendo, desde o momento em que acordo à luz do sol que ainda vive, até ao instante inconsciente que me leva a adormecer. Mas, tantas vezes, as horas passam, o final do dia chega, e cansada, ignoro que o que sobrou do meu tempo, foram os minutos sossegados na viagem de regresso a casa: o rádio não tocava, por que não havia cobertura da antena...
Quantas vezes Ele me pediu o meu tempo, o meu pensar, o meu agir...e eu me esqueci.
Toma, fica com o meu dia e ata-me a Ti. E lembra-me para que seja este o primeiro pensamento quando o dia começa. Vou esforçar-me para fazer as coisas em condições, e para não ignorar a Tua presença. Por Ti. Vou chamar-Te para as minhas conversas, e pedir-Te que me dês dicas, quando me vir enrascado. Vou contar-Te que fiquei triste ou alegre, para que possamos aproximarmo-nos mais. Vou lembrar-Me de Ti quando tiver preguiça ou reclamar de alguma coisa que não me agrade: afinal Tu morreste por mim. Que farei eu por Ti?
A vida pode ser tão cheia de acontecimentos maravilhosos ou excitantes ou importantes ou inesquecíveis, mas, sem Ti, todas as aventuras e venturas são iguais a tantas outras que por aí acontecem. Acabam por se tornar vazias. As pessoas que mostram ser mais felizes, na realidade não o são. Os seus momentos são sempre passageiros, e é deles que tiram os seus objectivos.
Os Teus seguidores lembram-nos pelos tempos: "sê útil, deixa rasto...". Por Ti, o tempo faz sentido.
"What we do in life echoes in eternity..."
" A destruição das minhas certezas não me destruiu a mim. A estabilidade vem de dentro, não de fora..." Lucille Clifton
domingo, 29 de março de 2009
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
evasão
Canta alto e descalça os sapatos.
Chega a casa exausta; num último esforço, sobe as escadas, pensando em mergulhar numa banheira de espuma.
Ouvem-se os carros lá fora a passar velozmente, as buzinas, os semáforos a apitar alto, os saltos altos das senhoras a correr nas passadeiras, o movimento dos sobretudos e o bater das primeiras gotas largas de chuva nas chapas metálicas..., todo o som aumentado no silêncio da casa.
Abriu de repente a torneira sonora da banheira. Enquanto a água corre já quente, liga um botão qualquer e uma canção anula a vida lá fora. Vinha com o desejo dessa música, e continua a cantar.
Espalha ao acaso bolinhas de sal, no fumo quente da água.
Tanta espuma branca cobre o seu corpo. Afunda-se numa água preguiçosa e como que adormecida, esquece a canção. Olha lá para fora. Os prédios são muros erguidos ao céu. Hoje não reparou na chuva, nem no frio, nem nas folhas que voavam pelas avenidas, porque nem reparou nas árvores.
No cinzento da cidade traçam-se inúmeras linhas vermelhas, em múltiplas direcções, as que os carros tomam, e não se sabe para onde.
Olha de cima a nuvem que vai escurecendo as ruas, e fica absorta no movimento das pessoas. Olha cada expressão, cada roupa, os sapatos, as mãos, o andar, a solidão.
A música ficou sem som, tudo se move devagar, as caras alienam-se umas das outras, e ela aliena-se de si mesma. O ruído do anoitecer volta à casa. E ela, pensativa, deixa-se ficar.
Chega a casa exausta; num último esforço, sobe as escadas, pensando em mergulhar numa banheira de espuma.
Ouvem-se os carros lá fora a passar velozmente, as buzinas, os semáforos a apitar alto, os saltos altos das senhoras a correr nas passadeiras, o movimento dos sobretudos e o bater das primeiras gotas largas de chuva nas chapas metálicas..., todo o som aumentado no silêncio da casa.
Abriu de repente a torneira sonora da banheira. Enquanto a água corre já quente, liga um botão qualquer e uma canção anula a vida lá fora. Vinha com o desejo dessa música, e continua a cantar.
Espalha ao acaso bolinhas de sal, no fumo quente da água.
Tanta espuma branca cobre o seu corpo. Afunda-se numa água preguiçosa e como que adormecida, esquece a canção. Olha lá para fora. Os prédios são muros erguidos ao céu. Hoje não reparou na chuva, nem no frio, nem nas folhas que voavam pelas avenidas, porque nem reparou nas árvores.
No cinzento da cidade traçam-se inúmeras linhas vermelhas, em múltiplas direcções, as que os carros tomam, e não se sabe para onde.
Olha de cima a nuvem que vai escurecendo as ruas, e fica absorta no movimento das pessoas. Olha cada expressão, cada roupa, os sapatos, as mãos, o andar, a solidão.
A música ficou sem som, tudo se move devagar, as caras alienam-se umas das outras, e ela aliena-se de si mesma. O ruído do anoitecer volta à casa. E ela, pensativa, deixa-se ficar.
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