A tarde torna-se azul marinho. A luz é a de Novembro ao anoitecer, mas como é apenas o quarto dia do mês do Natal, ainda existe no ar este cheiro e esta cor de Outono.
O Outono…, e as pequenas luzes ao longe nas casas, nas ruas, nas estradas, nos carros, a cintilarem com o movimento da frequência da corrente eléctrica ou com a velocidade e a deslocação do ar… As grandes folhas dos plátanos fazem tapetes no chão do Choupal. Quando passamos por lá sentimos os pés quentes, como se atravessássemos uma alcatifa comprida com candeeiros altos.
O ar cheira a lareiras acesas, a chaminés fumegantes, e a xailes pretos a correr nas esquinas, levando braçados de lenha para aquecer a noite. A noite vem fria, embora hoje haja nuvens, e não vá gear. Mas, se gear, tanto melhor: diz que deixa tenras as couves galegas.
Queria-te aqui, avó, para irmos de manta na cabeça às nabiças e às laranjas. Esta noite fazias sopa e, no serão, escolhíamos a rama que veio misturada nas azeitonas. Amanhã queres levar os alqueires ao lagar. Vêm cá buscá-los, precisas das azeitonas escolhidas. A tua almotolia está sempre cheia de veludo… Queria-te aqui, para te dizer que as tuas batatas fritas com ovo estrelado…
A cor do céu fica mais escura e depressa. Tenho lembranças vivas, e saudades presas, daquelas que envelhecem sozinhas, e que vão adquirindo sabedoria à medida que o tempo passa…, como acontece com as pessoas.
Ouço a Obertura de Mendelson. Fico aqui nostálgica, a pedir uma viagem para longe. Israel? Talvez, minha Li. Até já sonho com esse dia. Mas, até lá fica comigo a inércia dos dias.
1 comentário:
Errata: Mendelssohn.
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